domingo, 28 de novembro de 2010


AKDOV
Foi amor à primeira vista
Vestida de transparente branco e vermelho
Cabelo destapado dourado
Tatuagem perigosamente escondida na cidade
Onde os 40 degraus sobem qualquer um aos céus
Quanto mais próximo menos sou eu
Mais deslitro, menos deslitro
Deleito-me abraçado a ela
Flameja em tons púrpura
Acordo em nenhures, não a conheço
Nunca a vi, não tem identificação
Evaporou-se, um vácuo na cabeça
Parece que dançava com os braços cruzados
Revisto-me
Na navalha do fio, a tatuagem tem um nome
From Russian with love
Stolichnaya
Foto de Filipe Oiveira_http://www.olhares.com/Flippers

Mula Ruge
Ai, lá vem ela mostrando interesse
Por onde passa, a relva cresce
Ouve Popless no Ipod
Desfruta dos tomá lá disto (take that) como quem...
Com o grito do pastor estremece
E ruge: yes, yes, yes...

Meio
Podemos encontrar as pontas
Tocar o limite
Fazer o mínimo
Mas dificilmente estaremos no meio 2 vezes

Foto_Noé Cunha:http://www.olhares.com/FotoWolke

Poker de copas
Nas garras da noite
Um jogador destacava-se
Não deixava medo nas cartas
Mas sim um cheiro a mar
Dos seus olhos mareados
De um whiskey emocional
Via-se vagabundo a rir
A tentar fazer passar um “par”
Por um “Royal flush”
Louco
Seguiu o braço do balcão
Mas não o conselho do “barmen”
Naquele momento em que saiu
Atirou o dez, valete, dama e rei
Guardou o ás de copas,
No bolso, para dar a um olhar
Que não quis ver
Não gostava de mar
Nem sabia jogar - Poker

Homem estátua vs Estátua de um homem
O homem estátua é um estratega
Não se mexe para não ser notado
Traiçoeiro, ataca na distracção dos outros
Falta-lhe a coragem de um animal encurralado
Para liquefazer a realidade num sumo doce
Ao invés, passa o tempo a fingir que não
Limpa as sanitas dos diabos interiores
Destroca-se por alguém que já tem uma estátua
A estátua de um homem está de peito aberto
Demasiado exposta
Oxida
A dureza do ferro é um coágulo sentimental
Que impede os amores à última vista
Com um passado do peso do seu ferro
O seu desejo é colocar as bagagens no futuro
E lutar para ser ninguém

O problema dos imóveis é que,
mais cedo ou mais tarde,
serão abatidos por um pombo descuidado

Foto_Rui Moura: http://www.olhares.com/ruimoura58

Estação IW
Entro num combóio de mercadorias
Tiro as madeiras do vagão
Faço uma fogueira no chão
Aqueço as emoções frias

Derreto a carruagem
Moldo-a em carris
Sempre fui mais feliz
Durante a viagem

Vem um combóio de frente
Com o S. Cristovão pendurado
Continuei andado no rodado
Quem não sente não vê gente

Parei para beber no apeadeiro B-Side
Era bar aberto até a coisa dar para o torto
Quem assim bebe já não se endireita
Foge e segue a estação "Into the Wild"

A velocidade depende da vontade...
Os três pontos são luzes nesta insanidade.
Foto_Rattus: http://www.olhares.com/Rattus

Todos menos todos menos um
Por entre o alumínio da janela
Vi os varredores de lixo
A limparem as ansiedades
Dos que beberam garrafas sem rótulo
Vi emigrantes escaparem a mais um controle
Por entre os braços das prostitutas sem nome
E os cães que uivam toda a noite
Para uma lua que está de folga
Ao fundo um bar deixa sair a música de um piano
Acompanhado pelo assobio do vento frio
Por entre o alumínio da janela
Vi o camião do lixo partir
Libertar o fumo do gasóleo mal queimado
E nessa mancha de crude gasoso
Na noite mais fria dos últimos anos
Um sem - abrigo, por fim
Aqueceu

Poker de copas
Nas garras da noite
Um jogador destacava-se
Não deixava medo nas cartas
Mas sim um cheiro a mar
Dos seus olhos mareados
De um whiskey emocional
Via-se vagabundo a rir
A tentar fazer passar um “par”
Por um “Royal flush”
Louco
Seguiu o braço do balcão
Mas não o conselho do “barmen”
Naquele momento em que saiu
Atirou o dez, valete, dama e rei
Guardou o ás de copas,
No bolso, para dar a um olhar
Que não quis ver
Não gostava de mar
Nem sabia jogar - Poker

Grito de DIABO
O Diabo tinha o tempo muito ocupado
Andava em lua-de-mel
Com as suas novas “Chicas” colombianas

Viajava no seu “Jag” descapotável
Fumava charuto embebido em JB novo – ardia mais
E fazia sinais de fumo, dizendo
Uh uh, isto está um inferno

Só fazia sexo nas casas de banho das estações de serviço
Dava-lhe pica o cheiro das octanas, dizia

À noite dormia 3 minutos
Depois contribuía com CO2 para os problemas mundiais
A noite toda a dançar “Telephone call from Istanbul”
E a beber JB novo

Na ressaca, puxava da espingarda e lançando as garrafas ao ar
Atirava, para lhes beber a última gota
De seguida era levado em ombros pelas “Chicas”
Colocado no banco de trás
Conduzido pela serpente fora
Sonhava
Com uma vida melhor

Pub Arbutus
Estava fumo
O calor não permitia o casaco
Nem a camisa, nem a moral
Desviei a cortina de fumo etílico, entrei
E deslumbrei
As espingardas dos teus olhos
Tatuaram-me duas balas no meu coração
Um mal nunca vem só
Vieste em bola de fogo sobre mim
Encostaste-me à parede
E numa maratona sem fim
Suar acima, suar abaixo, sem cansar
As fagulhas despoletaram
As balas
Mataram-me o coração
Mas não me mataram

Nas cinzas da moral
Convidaste-me para um tango
Não na pista
Acho que ao som de Piazzolla
No balcão, no sofá, no chão, no céu
Então sussurraste-me ao ouvido algo de Martinez Vilas

This is how to dance the tango!
Feel the blood
Rise to your face
With every beat;
While an arm
Winds like a snake
Around a waist
That is about to break
This is how to dance the tango!

Deixei-te de te ver
Fui-me embora
Será ou não será
Ser ou não ser
que sera, sera
Afinal ainda estava ao balcão
Não era “Stout”
Não era Absolut
Era Medronho Marocain

Tempestade
A tempestade está a caminho
Os barcos já recolheram ao molhe
A rádio anunciou alerta vermelho
Todas as janelas estão fechadas
Ouvem-se os “raindogs” no meio daquilo que se parece mar
Só Corto Maltese poderia navegar aqui
Içar o destino
Rédea curta no leme
E seguir pelo encrespado de adrenalina
A sangrar da mão
A mesma que te abraça
À qual colocaste um pano
Bebido de chuva...
É incrível a luz dos relâmpagos
Vejo-te de quando em quando
Vejo-te quando as gotas de whiskey têm o teu gosto


Foto_Rui Moura: http://www.olhares.com/ruimoura58

MULARUGE